Descrição
Ao tratar das disposições perversas na adolescência e sua sin- tomatologia evidenciada nos espaços escolares, Willmann cria uma tensão original entre educação e psicanálise, que torna possível uma abordagem crítica e clínica do comportamento do adolescente pela escuta apurada de um professor que compreende os aspectos disci- plinares da educação e de um analista que leva em conta os procedi- mentos transgressivos pertinentes à perversão.
Neste caso, o livro situa o professor/analista na difícil tare- fa de entender a transgressão na adolescência como uma disposição perversa evidenciada na maneira como tal prática se apresenta no dispositivo histórico de uma sala de aula da rede pública.
Ao mostrar a transgressão à norma como um traço caracterís- tico da perversão, Willmann cria as condições efetivas de uma análise efetuada na sala de aula através da escuta de um professor que leva em conta o inconsciente do adolescente.
E, assim, elabora de uma maneira original um espaço habita- do pela escuta analítica de um professor que entende a causalidade específica da transgressão no dispositivo das práticas educacionais. Ao mostrar, com sutileza, a disposição perversa do comportamento do adolescente, ele torna plausível uma abordagem clínica da adoles- cência, sem perder de vista as características do setting pedagógico.
Neste livro – sutil e rigoroso – o leitor terá aspectos não mi- litantes, mas fundamentalmente éticos, da experiência analítica na sala de aula feita por um analista professor que torna possível uma compreensão das disposições perversas pelo exercício em extensão do procedimento da psicanálise.
Juventude em Transe aborda temas que se conectam com o pen- samento de pesquisadores como Pia- get, Morin e Pierre Weil, entre outros. O autor, com uma formação privile- giada, que vai da sala de aula à clínica, discute questões relevantes sobre a adolescência, dando ênfase a aspectos ainda pouco explorados na educação.
Motivado pela sua larga expe- riência em sala de aula e também na direção de escolas públicas, o autor deixa claro que, para promover edu- cação de qualidade, devemos recorrer a outras áreas de saberes; a educação não deve se fechar nela mesma.
A interface entre educação e psicanálise, apresentada neste livro, faz-nos refletir sobre a importância da primeira infância. Amor e limites são a base para que nossas crianças e jovens possam navegar, com relativa autonomia, por essa sociedade mu- tante. Família e escola constituem-se em pilares indissociáveis a uma edu- cação que se deseja cidadã, na acep- ção mais abrangente da expressão.
Como professora, reporto-me a Edgar Morin, cujas observações es- tão contempladas em sua preciosa obra: “Os professores precisam sair de suas disciplinas para dialogar com outros campos de conhecimento”.
Professora Maria de Nazareth Vasconcellos